quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Coletânea [028]

019. Cortesia e distanciamento social



          «Matilde tinha as feições coradas pelo lustro do suor, que lhe realçava as sardas, quando montava a cavalo, em volteio, no redondel do monte. Dirigia-se a Gerardo com uma polidez distante, sobranceira, que a diferença de idades não justificava. Nunca deixou de tratar o primo por você, apesar da insistência do pai, que não era de arcas encouradas e praticava uma franqueza de lavrador muito refractária a preciosismos e etiquetas. À mesa era de uma rispidez de gestos, de uma secura de trato, de uma indiferença que intimidavam Gerardo. Ele, com a idade que tinha, não podia adivinhar que significavam o contrário do que aparentavam.»


Mário de Carvalho, 2013: «As estátuas de sal»,
em A Liberdade de Pátio. Porto: Porto Editora; pp. 86-87.


LEITURAS
Rodrigues, D. F. (2003): Cortesia Linguística, uma competência discursivo-textual. (Dissertação de doutoramento).
                     Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Também AQUI.

NB - O leitor eventualmente interessado no sistema linguístico da cortesia verbal me português, encontrará também, ao longo deste blogue, além de artigos do autor (dez primeiros posts), textos recolhidos e transcritos em obras literárias, teóricas e em guias de boas maneiras.

2 comentários:

  1. Em, cortesia linguística, pelo menos, não há igual ao Professor David! Saudações reiteradas!

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