segunda-feira, 6 de maio de 2013

Coletânea [016]


011. «A podridão dos tratamentos nobilitarios» (1866)



O trecho, que neste post se apresenta, encontra-se n’A Queda d’um Anjo (1866), de Camilo Castelo Branco (1825-1890). É um fragmento da intervenção política que a conhecida personagem, Calisto Eloy de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas, deputado por Miranda, proferiu no parlamento, desejoso de «pôr cobro ao luxo da gente de Lisboa».

O conservador deputado transmontano, decidido a «cauterisar as chagas do corpo social, e não a cobril-as de pachos e lenimentos palliativos», ataca o «oiro, pedrarias, sedas, veludos, pompas, vaidades» que diz ver «por toda a parte», na capital, nomeadamente, na vida que levam certos «peraltas enluvados e encalamistrados» - «peralvilhos» - fazendo «despezas da sua fazenda, ou talvez da fazenda que não é sua.»

É neste contexto de falsos estatutos (económicos, sociais e culturais) que o protagonista, depois de invocar a lei joanina de 1739 [ver AQUI e posts seguintes], se insurge contra «a podridão dos tratamentos nobilitarios».

O trecho, embora de ficção, revela as transformações por que passavam (continuavam a passar), no séc. XIX, as formas/fórmulas de tratamento portuguesas, apesar das leis e alvarás régios que pretendiam fixar suas regras, determinando usos e coimando abusos e incumprimentos.




Bibliografia
BRANCO, Camilo Castelo, 1866: A Queda d’um Anjo. Lisboa: Livraria de Campos Júnior, Editor; pp. 61-63. Na edição consultada, em pdf, donde foram retiradas as imagens apresentadas, pp. 65-67. [Foi respeitada a grafia da edição consultada, em todas as citações, incluindo título.]

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