011. «A podridão dos tratamentos nobilitarios» (1866)
O
trecho, que neste post se apresenta,
encontra-se n’A Queda d’um Anjo
(1866), de Camilo Castelo Branco (1825-1890). É um fragmento da intervenção
política que a conhecida personagem, Calisto Eloy de Silos e Benevides de
Barbuda, morgado da Agra de Freimas, deputado por Miranda, proferiu no
parlamento, desejoso de «pôr cobro ao luxo da gente de Lisboa».
O
conservador deputado transmontano, decidido a «cauterisar as chagas do corpo
social, e não a cobril-as de pachos e lenimentos palliativos», ataca o «oiro,
pedrarias, sedas, veludos, pompas, vaidades» que diz ver «por toda a parte», na
capital, nomeadamente, na vida que levam certos «peraltas enluvados e encalamistrados»
- «peralvilhos» - fazendo «despezas da sua fazenda, ou talvez da fazenda que não
é sua.»
É
neste contexto de falsos estatutos (económicos, sociais e culturais) que o
protagonista, depois de invocar a lei joanina de 1739 [ver AQUI e posts seguintes], se insurge contra «a podridão dos tratamentos
nobilitarios».
O
trecho, embora de ficção, revela as transformações por que passavam (continuavam
a passar), no séc. XIX, as formas/fórmulas de tratamento portuguesas, apesar
das leis e alvarás régios que pretendiam fixar suas regras, determinando usos
e coimando abusos e incumprimentos.
Bibliografia
BRANCO, Camilo Castelo,
1866: A Queda d’um Anjo. Lisboa:
Livraria de Campos Júnior, Editor; pp. 61-63. Na edição consultada, em pdf, donde foram
retiradas as imagens apresentadas, pp. 65-67. [Foi respeitada a grafia da
edição consultada, em todas as citações, incluindo título.]
Sem comentários:
Enviar um comentário