terça-feira, 20 de setembro de 2011

UMA SENHORA DE MUITA TRETA (Fim)

CORTESIAS E DESCORTESIAS DUMA SENHORA DE MUITA TRETA (III)



[O texto que, com ligeiras alterações, continuo a reproduzir neste post encontra-se publicado em Actas do XV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, 2000, pp. 257-286, e em Cadernos Aquilinianos, n.º 11, 2000, pp. 51-80]





A Salta-Pocinhas não foi bem sucedida, portanto, com este primeiro apelativo [estabelecimento de contacto]: o teixugo não correspondeu ao chamamento. Convencida de que ele estava efectivamente em casa e ignorando que ele se encontrava mergulhado em profundo sono, a raposa, depois de repetir a primeira fórmula de chamamento, sem sucesso, muda de estratégia.

[R2] – [2]Ó da casa!... [3]Sou eu, a comadrinha raposa, [4]meu rico senhor D. Salamurdo! [5]Sou eu![46]

A raposa introduz, por um lado, um tratamento nominal auto-referencial – A COMADRINHA RAPOSA – e um tratamento nominal hetero-referencial – MEU RICO SENHOR D. SALAMURDO. A Salta-Pocinhas, num instante, abandona o anonimato, seu e do destinatário: apresenta-se e reconhece a identidade e a categoria social do teixugo.
O objectivo ilocutório de [R2] continua a ser o estabelecimento de contacto e a abertura da conversa que permitissem a formulação do pedido. A sua enunciação é mais cortês que a anterior e manifesta, além disso, afectividade, continuando informal, em relação à raposa, mas num misto de formalidade e informalidade, em relação ao teixugo. Trata-se de estratégias sedutoras de aproximação proxémica e taxémica que atenuam, por compensação, os referidos FTAs, visando criar uma plataforma favorável à interlocução e aceitação interpessoal[47]. Tais estratégias valorizam e/ou desvalorizam, em graus e orientações diferentes, ora as faces positiva e negativa do teixugo, ora as faces positiva e negativa da raposa. A Salta-Pocinhas preocupa-se, agora, unilateralmente, com a redefinição e regulação das respectivas posições.
Com o acto [3] – SOU EU, A COMADRINHA RAPOSA – a Salta-Pocinhas baixa de lugar (eixo vertical) e aproxima-se (eixo horizontal) do lugar do teixugo, num processo de relativa desvalorização directa da sua face negativa (ao apresentar-se expõe e diminui[48] o seu território individual) e de valorização indirecta da face positiva do teixugo (apresentar-se é reconhecer ao outro um estatuto superior[49]). Mas [3] é também uma desvalorização indirecta da face positiva da raposa (o anonimato e a estranheza deixam de a proteger) e, correlativamente, uma valorização indirecta da face negativa do teixugo (ao apresentar-se alarga, “enriquece” o leque de relações sociais do outro).
Além disso, este acto é ainda lesivo da face positiva da raposa, por dois motivos. Em primeiro lugar, ela apresenta-se a um estranho que, ainda por cima, não se encontra face-a-face, nem sequer visível. Em segundo lugar, se o teixugo não se encontrasse em casa, estaria a expor--se ao ridículo. Correlativamente, a raposa, com [3], está, de forma indirecta, a elevar a posição do teixugo, a valorizar-lhe a face positiva.
Mas, em virtude dos princípios de preservação e figuração, encontram-se também, implicitamente, valores atenuantes da desvalorização das faces da Salta-Pocinhas e, simultaneamente, de mitigação da valorização das faces do teixugo. Com efeito, ao construir SOU EU, A COMADRINHA RAPOSA, enunciado meta-comunicativo de deixis pessoal e de asserção com valor performativo, a Salta-Pocinhas afirma, discursiva e interpessoalmente, as suas faces positiva e negativa. Começa por afirmar a sua existência e individualidade – SOU EU – e só depois a sua imperfeita identificação – A COMADRINHA RAPOSA – numa reformulação de explicitação pelo tratamento social e de espécie, para terminar com a reafirmação da sua existência – SOU EU!
Repare-se, ainda, que a Salta-Pocinhas se identifica como A COMADRINHA RAPOSA. Pretende ela indicar, assim, que é uma personalidade socialmente conhecida e familiar, e, ao mesmo tempo, fazer passar a representação de que é querida (COMADRINHA) e como tal tratada e considerada pelos outros. Logo (tentativa de persuasão implícita), D. Salamurdo não podia deixar de a atender. A referência pelo diminutivo de parentesco, tentativa de criação de afectividade[50], e a identificação pelo nome da espécie são estratégias de cortesia negativa com que ela, naquela situação de comunicação, protege a sua face positiva[51]. Protecção necessária, uma vez que, ao apresentar-se por livre iniciativa, está também a lesar a face negativa do teixugo (ao apresentar-se invade o território do outro[52]).
Uma última observação: a Salta-Pocinhas não se apresenta e identifica, explicitamente, como comadrinha do teixugo – ela não usa o possessivo de propriedade ou intimidade sua. Fazê-lo implicaria que ela tratasse também o teixugo por meu compadrinho ou, pelo menos, por meu compadre, ou simplesmente por compadre. A raposa estaria, nesse caso, a propor que as distâncias proxémica e taxémica diminuíssem ainda mais, o que implicaria uma lesão maior da face positiva do teixugo e uma valorização atrevida da sua face negativa.

Na mesma estratégia de contacto e aproximação taxémica e proxémica, com sedutora afectividade, se situa o tratamento realizado pelo acto [4], MEU RICO SENHOR D. SALAMURDO. A senhora de muita treta procura, agora, num movimento inverso complementar, elevar e aproximar as posições do teixugo. Recorre, para o efeito, a um tratamento que é, ao mesmo tempo, uma valorização directa e positiva das faces positiva e negativa do destinatário. Valorização da face positiva, porque a Salta-Pocinhas trata, cumulativamente, o teixugo pelo nome próprio, pelo título nobiliárquico e por um honorífico. Valorização da face negativa, porque ela trata-o, também cumulativamente, por MEU RICO, com uma sedutora proximidade e afectividade que o determinante possessivo e o adjectivo marcam.
De facto, este tratamento é uma acumulação de formas e fórmulas em que a Salta-Po-cinhas joga o formal com o informal, o honorífico com o afectivo, o nobiliárquico com o comum. Por isso, se, por um lado, procura, com os tratamentos formais, consolidar o movimento de ascensão do teixugo, iniciado com [3], por outro, com os tratamentos informais, em especial aquele MEU RICO, inverte ou, pelo menos, reduz a orientação desse movimento. Num procedimento que lembra a estratégia de Penélope, ela faz e desfaz, dá e tira, eleva e igualiza, seduz e afasta.
Com estes tratamentos auto e hetero-referenciais, as distâncias taxémica e proxémica teriam sido praticamente anuladas. As posições e os estatutos de cada um estariam regulados e definidos. A raposa inclui (atreve-se a incluir) o teixugo no círculo das suas relações. O teixugo, porém, responde-lhe com o mesmo silêncio.

Mas a Salta-Pocinhas nunca desiste. Terá pensado, então, que era chegado o momento propício à formulação do pedido. Um pedido é, em princípio, tanto mais fácil de realizar, quanto mais estreitas são as relações taxémica e proxémica entre os interactantes.

[R3] –  [6]Ando negra de fome... [7]Por alma das suas obrigações, [8]dê alguma coisinha![53]

Não é meu objectivo analisar as estratégias discursivas e conversacionais de cortesia a que a Salta-Pocinhas recorre, para além dos tratamentos. Em [R3], a raposa não recorre a qualquer tratamento nominal, sendo o voceamento marcado pelas desinências verbais e pela forma pronominal. São de referir, todavia, os cuidados discursivos com que ela acompanha a formulação do pedido, todos eles procedimentos atenuantes deste FTA, directamente, e do contacto, indirectamente. Em primeiro lugar, apresentando a causa, isto é, justificando-se, com o acto preliminar reparador [6], que é, ao mesmo tempo, uma forma de auto-degradação, ferindo directamente as suas faces negativa e positiva. Em seguida, desarmando a eventual resposta negativa do teixugo, com o acto preliminar [7], recordando-lhe a obrigação que tem de atender aos famintos, ferindo deste modo a sua face positiva. E terminando, por último, com o pedido (acto [8]), atenuado pela indeterminação do objecto (a que, todavia, no turno de fala seguinte aludirá) e minimização do seu valor, através do diminutivo (ALGUMA COISINHA)[54], procurando desvalorizar, assim, o custo da satisfação do pedido[55].
Apesar de tudo, naquele castelo de alta fidalguia, não buliu vivalma. Mas a Salta-Poci-nhas nunca desiste. Volta, por isso, a carpir-se:

[R4] – [9]Ouvi dizer que Vossa Senhoria pilhou pata... [10]Sou a Salta-Pocinhas, sua amiga leal, verdadeira![56]

Temos, novamente, um tratamento hetero-referencial, em [9], VOSSA SENHORIA (que acompanha a explicação da insistente presença e chamamento, embora desculpabilizando-se: foram os outros que a informaram de que ele tinha caçado uma pata) e um tratamento auto-re-ferencial, com [10], SOU A SALTA-POCINHAS. Desta vez, porém, a raposa dirige-se formal e cerimoniosamente ao teixugo. Trata-o com deferência e reverência, enquanto volta a identificar--se, mas desta feita pelo nome próprio, declarando-lhe ser, ao mesmo tempo, SUA AMIGA LEAL, VERDADEIRA. Esperaria ela, assim, num último esforço, reconhecida e aceite a hierarquia e a dignidade do destinatário e, em contrapartida, a sua baixa e humilde posição, que D. Salamurdo a ouvisse e atendesse. Estabelece-se (estabelecer-se-ia), assim, um significativo distanciamento taxémico e proxémico, de elevada cortesia.
Como se sabe, Vossa Senhoria não é fórmula de tratamento nominal, mas pronominal. Não me deterei, por isso, na sua descrição[57]. Convém assinalar, todavia, o seu valor pragmático de alta cortesia, uma vez que se inscreve na estratégia retórico-argumentativa de progressiva valorização (sedução para a persuasão) com que a senhora de muita treta foi, sucessiva e ascendentemente, tratando D. Salamurdo. A Salta-Pocinhas, ao utilizá-la, está a valorizar directamente a face negativa e positiva do teixugo. É reconhecer-lhe, ao mesmo tempo, o elevado estatuto social e de poder. Valorização taxémica e proxémica que a fórmula, não acompanhada do nome próprio, ainda mais acentua. Processo de elevação hierárquica e de distanciamento que a sintaxe e a semântica da sua construção confirmam: Vossa Senhoria é fórmula de tratamento que, embora dirigida a um interlocutor presente (logo segunda pessoa), exige concordância de terceira pessoa. Uma espécie de alocução delocutiva[58]: o locutor dirige-se a um vós (VÓS de cortesia e protocolar, que é um TU), como se fosse um ele. Além disso, o determinante possessivo Vossa também distancia: compare-se com Minha Senhoria.
Na mesma estratégia de cortesia, mas de sentido inverso, é a forma SOU A SALTA-PO-CINHAS. Resta acrescentar, ao que acima ficou dito, incluindo a propósito de [3], que, com esta forma, a auto-desvalorização das faces negativa e positiva da raposa é ainda maior. A Salta-Po-cinhas já não se identifica apenas pelo tratamento social e de espécie, mas pelo nome próprio. Ou seja, a raposa já não pode ser confundida com nenhuma outra comadrinha raposa, nem assim ser tratada, mas por ela própria, como ser individual e único[59]. E como se isto não bastasse, numa derradeira estratégia de sedução e persuasão, promete (oferece), por fim, com submissão afectiva, uma espécie de vassalagem, cujas contrapartidas são conhecidas[60].
Não  são  evidentes,  em [R4], procedimentos de face want e face work da Salta-Po-cinhas, em relação à si própria. A auto-degradação pessoal e o cumprimento reverencial dirigido ao teixugo sobrepõem-se. Mas quando alguém se declara amigo, ainda por cima leal e verdadeiro, de alguém que se situa nos outros pólos das distâncias – uma alta figura, portanto – não é este comportamento uma forma também de preservação e figuração da própria face?

As descrições feitas mostram as estratégias discursivas e conversacionais a que a senhora de muita treta recorreu, sobretudo ao nível dos tratamentos, para atingir os seus fins. Aproximando e afastando, elevando o outro e rebaixando-se a si própria, reverenciando e diminuindo-se, num processo de inversão progressiva de posições, a Salta-Pocinhas tentou, insistentemente[61], atenuar os FTAs de contacto e de pedido, mas sem nunca pôr em real perigo a sua própria face.
Na figura seguinte, representam-se as posições e distâncias taxémicas e proxémicas que a Salta-Pocinhas, ao nível dos tratamentos auto-referenciais e hetero-referenciais, foi construindo, respectivamente, para si e para D. Salamurdo. No cruzamento dos eixos horizontal e vertical (espaço mais escuro) situa-se a zona onde as distâncias são praticamente nulas. As zonas que, em sentido vertical e horizontal imediatamente a continuam (escuro médio), são ocupadas pelos tratamentos de distanciamento, respectivamente, taxémico e proxémico (simétricos, se no eixo horizontal, assimétrico se no eixo vertical). Nas zonas de sombreado mais claro situam-se os tratamentos de maior distanciamento. Os tratamentos dirigidos ao teixugo devem ser lidos em sentido ascendente.
As zonas não são compartimentos estanques. As linhas tracejadas entre os rectângulos procuram mostrar a fluidez dessas virtuais fronteiras. O movimento descendente da raposa é representado pela seta de cauda tracejada. O movimento ascendente, resultante dos tratamentos dirigidos ao teixugo, pela seta de cauda contínua. Os tratamentos auto-referenciais estão em itálico, os hetero-referenciais em negrito. Todo o reactângulo procura representar o espaço onde podem ocorrer relações de cortesia.


No co(n)texto conhecido e construído ao longo dos turnos de fala desta sequência, a raposeta geriu as relações interpessoais até aos limites da cortesia. Impossível ir mais longe. Por isso, quando verificou que, depois de tudo o que havia feito/dito, mais uma vez a súplica se perdeu no silêncio da terra e do solar adormecido, que podia ela fazer?
Em tom provocante, furiosa, gritou[62], então, à entrada do corredor que dava acesso ao aposento de D. Salamurdo:

[R5] – [11]Pai teixugo, narigudo, barrigudo, alma de besugo, [12]larga a pata! Larga a pata!... a pata![63]

A Salta-Pocinhas salta para o campo da descortesia, de que os insultos[64] são apenas uma das suas manifestações mais evidentes, como reacção e provocação, mas também de reafirmação da sua agressividade, do seu poder, da sua personalidade[65]. Com efeito, não é só com insultos que a raposa ofende D. Salamurdo. Com [R5], a senhora de muita treta comete várias ofensas verbais, três espécies de FTAs: (i) actos directivos: o chamamento de [11] e a ordem de [12]; (ii) o chamamento é uma sequência de insultos pessoais[66] que, como tais, são considerados também actos directivos, pois exigem uma resposta[67]; (iii) passagem súbita ao tuteamento que, tendo em conta os dados co(n)textuais, é também um insulto evidente[68].
Os insultos apresentam diferente estrutura morfo-sintáctica e semântico-lexical[69]. Aqui, ater-me-ei, sobretudo, àqueles que apresentam uma estrutura sintagmática própria do vocativo axiológico, nominal ou adjectival, idêntica, aliás, à das formas nominais de tratamento.
Em [R5], o acto [11] é uma série rimada de insultos, com valor de vocativo axiológico. A Salta-Pocinhas ataca directamente as faces negativa e positiva de D. Salamurdo. Nem todas as formas que utiliza, porém, são em si mesmas insultos. NARIGUDO e BARRIGUDO são aumentativos depreciativos que ofendem objectivamente aspectos fisionómicos do teixugo, atingindo, assim, a seu território corporal. ALMA DE BESUGO atinge também a sua face negativa, mas ao nível moral, se assim se pode falar. Mas que insulto se encontra na expressão PAI TEIXUGO? É a sua inclusão co(n)textual e a intenção com que é proferido que faz dele um insulto[70], atingindo sobretudo a sua face positiva. Tem-se, assim, que NARIGUDO, BARRIGUDO e ALMA DE BESUGO são palavras insultuosas, por natureza, enquanto PAI TEIXUGO é uma expressão que, não sendo em si mesma um insulto, adquire esse estatuto no co(n)texto. Correlativamente, a  Salta-Pocinhas revaloriza a sua face positiva. Até porque a descortesia e, em particular, o insulto têm o efeito simultaneamente contraditório de distanciamento e de aproximação do ofendido[71].
Com os actos directivos (insultos, ordens, tuteamento) de [R5], a Salta-Pocinhas inverte as posições que até aí tinha construído (tentado construir). D. Salamurdo é derribado do pedestal em que, hipócrita e interesseiramente, havia sido colocado, passando ela a reocupar um lugar alto, mas completamente fora do quadro da cortesia. Ou seja, a Salta-Pocinhas regressa à sua posição inicial, anterior às tentativas de contacto e formulação de pedido, mas agora agravada pelos FTAs intrinsecamente descorteses. A Salta-Pocinhas não é cortês por obrigação social, mas tão só por devoção pessoal. Aliás, o egoísmo é uma das muitas características negativas desta personagem.

Termina aqui a primeira sequência desta interacção. Comenta o narrador que nem injúrias, nem lágrimas, nem rogos conseguiram despertar D. Salamurdo.
Mas a Salta-Pocinhas nunca desiste. Cautelosa, procurou certificar-se de que o teixugo estava em casa. Espreitou pela clarabóia e lá estava o maganão, confortavelmente instalado. Então, tornou ela a gemer:

[R6] – [13]Ó meu rico senhor, [14]tenha dó! [15]Ando mirradinha de fome! [16]Já nem me recorda que engolisse um escaravelhinho...[72]

A Salta-Pocinhas regressa ao quadro da cortesia. Retoma parte do tratamento deferencial e afectivo já utilizado em [4] de [R2], cujos traços principais foram descritos acima. Todavia, se com [R2] procurou definir uma relação proxémica e taxémica de proximidade e igualdade, desta vez, o distanciamento proposto é maior, apesar do tratamento hetero-referencial não ser tão honorífico. A Salta-Pocinhas já não se apresenta: limita-se a auto-degradar as suas faces (actos [15] e [16]), que são, por um lado, outras tantas razões para que D. Salamurdo tenha dó dela e, por outro, outras tantas explicações para a sua presença e chamamento. A sua confissão de pedinte e de faminta é uma clara degradação das suas faces negativa e positiva.
Entretanto, D. Salamurdo desperta. A Salta-Pocinhas, por isso, volta a chamar:

[R7] – [17]Ó meu rico senhor!

            O teixugo, incomodado e ofendido, não espera que a Salta-Pocinhas volte a formular o pedido. Responde, imediata e agressivamente:

[T1] – [18]Qual rico senhor, nem qual diabo! –[19]regougou afinal D. Salamurdo– [20]Não tenho nada que dar, [21]mas, {[22]tivesse eu galinhas ou patas aos montes, sob pena de para aí apodrecerem}, não eram para você [23]que vem empestar-me a casa. [24]Apre, [25]quando tiver de pedir esmola a portas de certa teoria, [26]lave-se primeiro, [27]trate de desencardir-se da catinga, [28]que fede à légua![73]

D. Salamurdo, apesar das cortesias da Salta-Pocinhas, também não é nada cortês. Com [T1] comete uma série de FTAs, todos eles lesivos das faces negativa e positiva da raposa. Mas nem todos, sendo embora ofensivos e descorteses, são insultos. Insultos são os actos [23] a [28], com que o teixugo censura a insuportável falta de higiene da raposa. Nenhum destes insultos, porém, é vocativo, ou forma de tratamento, e, por isso, não me deterei na sua análise. Repare-se, todavia, na réplica com que o teixugo denega a fórmula de tratamento (acto [18]) por que foi interpelado, por abusiva e inadequada à sua auto-estimada alta posição. Posição de estatuto e não de fortuna, porque ser rico e nada ter para dar é mais condição de quem é apenas um senhor pobre. Ou um pobre senhor, no fim de contas.
Por outro lado, D. Salamurdo trata a Salta-Pocinhas pela fórmula pronominal VOCÊ, que, no co(n)texto temporal pré-republicano e geográfico de selvas e penedais em que ocorre, tem não só um sentido de distanciamento, mas também de depreciação[74].
Estava instalado o conflito. A Salta-Pocinhas, perante tão cruel descompostura, ofendida na sua auto-consideração de mocinha airosa, briosa e graciosa, não se contém e regressa aos insultos, ofendendo de novo as faces negativa e positiva do antagonista.

[R8] – [29]Teixugo narigudo, barrigudo, alma de besugo, [30]larga a pata!

Sobre estes insultos ver supra o que foi dito a propósito dos actos [11] e [12] de [R5]. Registe-se, apenas, que a gravidade dos insultos praticados com [R8] é maior, uma vez que são dirigidos ao teixugo, estando ele já acordado.
E daí em diante, não satisfeita, a raposeta insiste na cantilena

[R9] – [31]Larga a pata!

repetida até ao fim da interacção, como fórmula irritante de zombaria e provocação.
A interacção só podia degenerar num diálogo de surdos.

[T2] – [32]Que trabalhos os meus! –[33]exclamou D. Salamurdo.– [34]Larga a pata?!... [35]A pele hás-de tu largar-me nos dentes, [36]se algum dia te caço a jeito! [37]Descarada, celerada, enjeitada de chacal!
[R10]–[38]Larga a pata!
[T3] – [39]Chegou-se a uma época, [40]com seiscentos moscardos! [41]em que a gente já nem segura está na sua casinha. [42]Vem o mariola e enxovalha-nos, [43]vem o ladrão e rouba-nos. [44]Não há ordem, não há nada!
[R11]–[45]Larga a pata!
[T4] – [46]Não calas a sanfona? [47]Então deixa, [48]minha ladra, minha saca de mentiras, [49]que vais ter o pago. [50]O vizo-rei há-de sabê-lo ainda hoje. [51]E ele, {[52]que não é para brincos}, dá-te o catatau![75]

            Interessa referir, na sequência da análise dos tratamentos, que D. Salamurdo passa a tratar a Salta-Pocinhas por TU, cujos valores ofensivos e distanciadores já foram acima referidos[76]. Além disso, o teixugo formula directamente novos insultos de tipo vocativo: em [37], apostrofando-a de DESCARADA, CELERADA, ENJEITADA DE CHACAL e, em [48], de MINHA LADRA, MINHA SACA DE MENTIRAS. Trata-se, desta vez, de ofensas que não atingem os aspectos fisionómicos da raposa, mas a sua dignidade pessoal.
            Mas há, em [T3], três formas nominais de tratamento indirecto, uma auto-referencial, A GENTE, em [41], e duas hetero-referenciais, O MARIOLA, em [42] e O LADRÃO, em [43], que merecem atenção. [T3] é uma espécie de monólogo dialógico, em que o locutor se dirige a si próprio e a um alocutário aparentemente ausente. O teixugo refere-se à raposa como um ELE, uma terceira pessoa, estratégia discursiva de delocução[77], procedimento descortês para a face positiva da Salta-Pocinhas. Além disso, os insultos de mariola e ladra, com que também indirectamente é tratada, excluem-na do estado de gente em que D. Salamurdo se inclui. A indirecção discursiva e o tratamento impessoalizado são, regra geral, estratégias de cortesia. Neste co(n)texto conversacional e romanesco, são formas de descortesia.
            Os insultos, por falta de higiene, são FTAs que atingem directamente a face negativa (o território corporal) e indirectamente, mas de forma ainda mais lesiva, a face positiva (desejo de ser apreciado pelos demais)[78] da raposa. Com os insultos directos de [37] e [48], e o turno de fala [T3] D. Salamurdo atinge sobretudo a face positiva da Salta-Pocinhas.
            O conflito agravara-se e a ruptura tornara-se inevitável. D. Salamurdo, impossibilitado de fazer justiça pelas próprias mãos, recorre ao poder instituído, indo queixar-se ao vizo-rei. É geralmente assim que acontece, quando um inferior ofende um superior. Observa Dolores Belchí que «el superior puede insultar al inferior sin que su acto tenga consecuencias; lo contrario no puede ocurrir, y si ocurre el ofensor será sancionado, bien por el ofendido, bien, en determinadas circunstancias, por una institución.»[79].
Mas sendo como é, a raposa não respeitava também nenhuma das hierarquias e poderes estabelecidos. Por isso, logo tratou de se vingar do teixugo, ofendendo-o através de comportamentos não verbais[80]. Vingança que terminou na anulação física do adversário. Ao espiar as queixas que D. Salamurdo dela fazia ao vizo-rei, ficou ela a saber que D. Brutamontes padecia de horríveis dores numa queixada. Então, untuosa e dengosa, recorrendo, em sua melhor prosa, a novas estratégias de cortesia e retórica argumentativa, convence o desesperado D. Brutamontes de que a pele dum teixugo ainda quente, acabadinha de esfolar, era remédio abençoado, na cura de tais maleitas[81].

A protagonista do Romance da Raposa, na interacção analisada, como em todas as outras em que é interactante, é representada com invulgar competência retórico-discursiva (comunicativa), em particular na gestão que sabe fazer das estratégias de cortesia com que, não só ao nível dos tratamentos, seduz e convence os seus interlocutores. Mesmo que nunca seja sincera. A não ser quando insulta. Cortês, sempre que precisa. Descortês, quando desatendida ou mesmo satisfeita.
Ou não seja a Salta-Pocinhas uma senhora de muita treta. Como convém à estratégia narrativa da fábula.



[46] RIBEIRO, 1961: 28.
[47] «Los actos de presentación permiten el reconocimiento de los sujetos y su identificación permiten el reconocimiento de los sujetos y su identificación grupal, con lo que se aminora la distancia social que les separa y se combate la exclusión y la alienación.» [LABORDA, 1996: 11]
[48] O morfema {INHO} inclui, também, o sentido de [diminuição].
[49] «A regra fundamental das apresentações é a seguinte: a pessoa que se considera de categoria inferior é a que deve ser apresentada à de condição superior». [GIÃO, 1988: 136]
[50] «As formas em –inho e –ito [...] não são, em geral, termos fixos, mas variáveis de sentido e têm que ser sempre considerados em relação com o contexto. Embora, na maioria dos casos, o sufixo diminutivo não altere o significado do radical da palavra sufixada, traduz, no entanto, com maior intensidade os sentimentos, os afectos, ou as intenções cambiantes das pessoas que o empregam tornando assim certas expressões mais sugestivas, penetrantes ou delicadas. Por vezes parecem até usá-lo para influenciar o interlocutor, para o distrair ou para despertar nele maior atenção para algo.» [SKORGE, 1956: 223-224]. Para o estudo dos diferentes valores do diminutivo, cfr. SKORGE, 1956 e 1958. Para uma análise contrastiva do diminutivo entre o português e o inglês, à luz da teoria de cortesia proposta por Brown & Levinson, cfr. PEDRO, 1993: 402-417.
[51] Cfr., supra, quadro do sistema de cortesia, princípios L-orientados, A-(1).
[52] Os actos preliminares que antecedem, em situações sobretudo formais, as auto-apresentações ou as apresentações denotam esta faceta FTA de invasão territorial: «Dá-me licença que lhe apresente F.?», ou «Posso apresentar-lhe F.?»; e «Posso apresentar-me?», ou «Permita / deixe / autorize que me apresente.»
[53] RIBEIRO, ibid.
[54] Para uma amostragem resumida dos marcadores verbais atenuantes que acompanham a realização de um FTA, no âmbito da cortesia negativa, cfr. KERBRAT-ORECCHIONI, 1996: 57-58.
[55] O pedido é, como se sabe, um acto directivo, um FTA que, por isso, ao ser formulado, deve ser acompanhado de procedimentos discursivos atenuantes. Um pedido é, no fim de contas, uma ordem, só que servida com mais ou menos “açúcar”, conforme o custo para o doador e o benefício para o receptor. Sobre a escala custo / benefício, ver, supra, nota 14.
[56] RIBEIRO, ibid.
[57] Para uma diacrónica descrição sintáctico-semântica desta fórmula de tratamento, cfr. CINTRA, id.: 18, 21, 22-23 e 32, onde são apresentados os diferentes valores de distanciamento que, entre o séc. XV e inícios do séc. XX, altura em que estava já em acentuado desuso. Recorde-se que a interacção representada e em análise se situa, historicamente, nos finais da monarquia portuguesa. Cfr RIBEIRO, id.: 74.
[58] No sentido que a elocução, alocução e delocução dá M. H. Araújo Carreira: «Pour notre part, nous ferons un usage plus élargi de ces termes et, en conséquence, nous prendrons les noms ELOCUTION, ALLOCUTION, DELOCUTION qui spécifient la désignation: de soi-même (JE), de l’autre à qui JE s’adresse (TU), de l’autre (IL / ELLE) absent de l’espace interlocutif, dont JE parle.» [CARREIRA, 1995: 24-25]
[59] O nome próprio é «alguma coisa de intimamente ligado à personalidade de cada um». [CINTRA, id.: 13]
[60] Com o tratamento de Vossa Senhoria e a declaração de amizade leal e verdadeira, a Salta-Pocinhas faz lembrar o contrato feudal de vassalagem (que era, no fim de contas, o que reinava nas selvas e penedais do Romance da Raposa, enquanto os bichos não tinham decidido proclamar a república [RIBEIRO, id.: 74]). «O senhor devia ao vassalo protecção e mantimento, o vassalo devia ao senhor obediência, respeito, ajuda, conselho e tudo o que pertencesse a acrescentamento de sua honra e estado.» [A. H. de O. M., «Vassalagem», in SERRÃO (dir.), 1971 (vol. 4): 259]
[61] Apesar de recorrer a procedimentos verbais progressivamente corteses, o facto de insistir no contacto sem resposta é também um FTA, uma descortesia. As estratégias cada vez mais corteses também podem ser explicadas tendo em consideração este comportamento. Por outro lado, se D. Salamurdo estivesse em casa e acordado, e não correspondesse, tratar-se-ia de uma descortesia da sua parte.
[62] Com este verbum dicendi, o narrador fornece informações paraverbais que, como disse (cfr. supra, nota 37), podem ser também corteses ou descorteses. Ao gritar, a raposa está, não só, a procurar fazer-se ouvir, mas também a ser descortês, comportamento prosódico que, aliás, é reconhecido acompanhar, regra geral, a enunciação do insulto. «El insulto es la traducción verbal de la violencia, y esto se manifiesta naturalmente en una distorsión de los elementos prosódicos y entonativos: el acento es más intenso, el tono más agudo, aunque también puede hacerse más grave, y no es raro que la articulación sea más tensa y el silabeo más pronunciado. En estos casos, a la intención ofensiva se le suma amenaza, aun cuando ésta no se exprese mediante un lexema concreto.» [BELCHÍ, 1996:134]
[63] RIBEIRO, id.: 29.
[64] O narrador do Romance da Raposa chama-lhes injúrias. Insulto e injúria, na linguagem corrente, como nos dicionários, são tidos como sinónimos. Há, porém, quem os distinga. Segundo informa, entre outros, Evelyne Largueche, os psicólogos Maxime Chastaing e Hervé Abdi[64] concluíram que o insulto «se distinguerait de l’injure en tant qu’elle pourrait être sinon vérifiée, du moins vérifiable ou justifiable», enquanto que a injúria «en revanche, serait du domaine de l’invérifiable, et de l’injustifiable». [LARGUECHE, 1983: 3). Opto aqui pelo termo insulto. «El insulto es el resultado de un conflicto interpersonal, manifiesta un juicio de valor negativo y supone la atribución de una cualidad negativa o la negación de una cualidad positiva del ofendido.» Trata-se, por isso, de uma agressão pessoal, porque aquele que o recebe «se siente herido en algo más que en su sensibilidad: es toda su persona la ofendida, ya que el insulto atenta directamente contra su imagen». [BELCHÍ, id.: 152 e 131]
[65] «Que les interdits s’estompent et le gros mot, juron ou injure, est vidé de tout pouvoir: pouvoir de libérer des tensions, de l’agressivité, pouvoir de permettre l’afirmation de soi face à autrui.» [ROUAYRENG, 19983: 124]
[66] Recordo a distinção estabelecida por W. Labov, entre insultos pessoais e insultos rituais. Estes, praticados como elemento de coesão grupal, são, «véritables joutes verbales où, à l’aide de formules faites à partir de quelques canevas syntaxiques déterminés, le locuteur doit non seulement s’assurer la supériorité sur l’adversaire par son sens de la repartie, mais encore s’attirer l’admiration des spectateurs en provoquant leur rire.» Trata-se, portanto do insulto lúdico, simbólico, o qual, por convenção social, não ofende verdadeiramente ninguém: «tous les participants savent que le contenu  exprimé est absolument invraisemblable». O insulto pessoal, pelo contrário, é uma agressão e, ao ser percebido como tal, «appelle une dénégation et peut dégénérer en conflit». [ROUAYRENG, 19983: 107 e 120] Cfr. também LABOV, 1978: 223-288, onde o autor estuda «les insultes rituelles» entre grupos de jovens negros dos EUA.
[67] «L’injure implique un destinataire (qui peut évidemment être parfois de destinateur), que l’on veut provoquer ou surprendre, qui est contraint par là à réagir et dont la réaction peu être très variable.» [ROUAYRENC, id.: 110.]
[68] «Il est en tout cas certain que lorsque son usage est manifestement “marqué”, décalé, déviant, le tutoiement prend une tonalité variable, mais toujours négative: paternaliste, mépris, agressive – et c’est à la limite ce tutoiement violemment agonal, souvent associé au langage de l’insulte». [KERBRAT-ORECCHIONI, 1992: 61]
[69] Encontram-se análises do insulto, no âmbito dos estudos linguísticos, em BELCHÍ, 1996; LABOV, 1978: 223-288; MILNER, 1978; ROUAYRENG, 19983 e WINDISCH, 1987. Ver também, para uma perspectiva psicanlítica, LARGUECHE, 1983. Para uma visão dos insultos nas diferentes línguas europeias, cfr. BURGEN, 1996.
[70] «Un même mot, un même geste ou un même acte peuvent, selon le contexte, avoir ou non un caratère injurieux.» [LARGUECHE, id.: 2]
[71] A propósito da descortesia em geral, observa Camille Pernot: «Sous sa première forme l’impolitesse creuse la distance entre les êtres: à l’attitude d’accueil elle substitue l’indifférence. Plutôt que le contraire de la politesse, c’en est l’absence. L’homme impoli de cette façon réduit ses relations avec les autres à des rapports utilitaires: un commerce social désintéressé n’a pas de valeurs à ses yeux. Sous une autre forme, de sens apparemment opposé à celui de la précédente mais qui, en réalité, se combine aisément avec ce dernier, l’impolitesse consiste à minimiser les distances, voire à ne pas en tenir compte. Ce n’est plus la simple absence de politesse mais son contraire exact: la grossièreté.» [PERNOT, 1996: 357]
[72] RIBEIRO, ibid.
[73] RIBEIRO, id.: 30.
[74] Recorde-se a réplica com que, ainda em certas regiões do país, se denega e censura tal fórmula de tratamento: “Você é estrebaria!”. Sobre os valores depreciativos de você, cfr. WILHELM, 1979:18; BASTO, 1931: 193 e MEDEIROS, 1985: 176-177.
[75] RIBEIRO, id.: 31-32.
[76] Cfr., supra, nota 68.
[77] Cfr., supra, nota 58.
[78] Os insultos são geralmente actos ameaçadores da face positiva dos interactantes. O próprio narrador, ou a Salta-Po-cinhas pela sua boca (discurso indirecto livre) assim considera os insultos de falta de higiene: Grandemente se sentiu a raposinha com tão cruel descompostura. [...] Não era desonra pertencer à ralé, nem faltarem-lhe costados de fidalguia. Mas cheirar mal, ser assim fedorenta, ofendia-a na ideia que concebera dos seus agrados, mocinha airosa, briosa, graciosa que se julgava. [RIBEIRO, id.: 30]
[79] BELCHÍ, id.: 135.
[80] E delambida, atrevida mas precavida, fusgando à direita, fusgando à esquerda, não houvesse ali cilada, entrou na cova do teixugo. Percorreu-a de ponta a ponta: comer, de grilo! Adiante: foi-se à cama do maganão, de fofo musgo, deliciosa para dormir e sonhar, e sem vergonha, não só por acinte, mas também com ronha, estirou-se, rolou-se, espojou-se. E isto feito e outras coisas mais, crente que o cheiro do seu corpo afugentaria para todo o sempre o esquisito senhor, regougou de alegria. [RIBEIRO, id.: 32]
[81] RIBEIRO, id.: 34-41.


Referências

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BELCHÍ, D. A. I., 1996: «La interacción conflictiva. Los insultos en español», in REVENGA & CANO (eds.), 1996: 130-154.
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WINDISCH, U., 1987: Le K.-O. Verbal. La Communication Conflictuelle. S/l: L’Age d’Homme.

(Obs. – Este estudo, em versão menos desenvolvida, foi apresentado ao XV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, realizado em Faro, 29-30 de Setembro e 1 de Outubro de 1999. A actual redacção corresponde à versão publicada nas respectivas Actas (vol. II) (Braga: Associação Portuguesa de Linguística), 2000: 257-286. Será também publicado num dos próximos números de Cadernos Aquilinianos, editados pela «Fundação Aquilino Ribeiro».)