quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Apresentação

[Reproduzo o post publicado  em 20.12.2005.]


Prezado Leitor,
Com este blog pretendo partilhar, com linguistas, em particular, e público, em geral, estudos que venho realizando sobre a Cortesia Linguística, domínio de que, a seguir, faço uma brevíssima apresentação. Centrar-me-ei, sobretudo, sobre descrições linguísticas e práticas de comportamentos corteses e descorteses em português.
Agradeço o envio de críticas, comentários, exemplos de práticas, textos, referências bilbiográficas (específicas e afins), etc.
Seguir-se-ão outros textos.
Muito obrigado!
Cumprimentos!
David F. Rodrigues
CORTESIA LINGUÍSTICA
A Cortesia Linguística (CL) constitui, desde finais dos anos setenta do século passado, um novo domínio de investigação na área da Pragmática Linguística, em geral, e da Análise do Discurso, em particular. O seu objecto é constituído pelas formas verbais corteses e descorteses já inscritas no sistema de uma língua e pelas construções discursivo-textuais que, com idênticos valores, os locutores (falantes e escreventes) realizam nas suas diferentes práticas de comunicação.

Através das cortesias verbais (e das paraverbais que geralmente as acompanham) os locutores, em situações de interlocução real ou fictícia, isto é, de efectivos interlocutores, ou em situações de alocução real ou fictícia, isto é, de apenas alocutores, procuram ora evitar ou atenuar a realização de actos verbais descorteses, ora formular e construir actos verbais corteses.

O objectivo da CL, enquanto domínio de estudo científico, é duplo:
(i) identificar formas, construções e práticas, corteses e descorteses, realizadas tanto em interacções verbais estritas (conversas, diálogos, entrevistas…), como em interacções verbais latas (as restantes práticas não especificamente dialogais);
(ii) descrever e sistematizar os meios e mecanismos linguísticos e discursivo-textuais que realizam, explicam e explicitam tais formas, construções e práticas.

Recorrendo a estes meios, adequados, sempre, a cada situação e contexto de interlocução ou alocução, os interlocutores ou alocutores, porque sempre, uns e outros, em interacção, e, por isso, sempre também interactantes, procuram, fundamentalmente, preservar as
faces ou imagens de uns e de outros, bem como de terceiros, presentes ou ausentes, em particular quando objecto de discurso. Deste modo se faz com que as diferentes interacções verbais decorram em maior ou menor sã convivência e harmonia social.

A Cortesia Geral é um
saber viver. Na sua dimensão verbal, é essencialmente um saber dizer que, por isso, é uma competência discursivo-textual [cf. Rodrigues (2002/2003)].

Robin Lakoff (1973), Geoffrey Leech (1983) e Penelope Brown & Stephen Levinson (1978/1987)[1] são considerados os fundadores da CL. De facto, as teorias destes autores, em particular a do último par, com ou sem as correcções, clarificações e desenvolvimentos, a nível terminológico e conceptual, introduzidos sobretudo por Catherine Kerbrat-Orecchioni (1992 e 1996), constituem os primeiros modelos sistematizados de análise da cortesia/descortesia verbal, segundo uma perspectiva fundamentalmente pragmático-linguística. A eles se deve o mérito da caracterização da especificidade dos actos verbais corteses (e,
a contrario, dos descorteses), bem como a importância que eles desempenham nos processos da comunicação humana, em geral, e da interacção verbal, em particular.
Outros autores, porém, da filosofia à linguística, os precederam na reflexão e estudo das (des)cortesias, nomeadamente aqueles que chamaram a atenção para o carácter accional e interaccional da linguagem verbal. Cabe destacar, no campo da Filosofia da Linguagem, os nomes de Paul Grice (1975) e de John Searle (1969 e 1975). No campo da Microssociologia, destaca-se Erving Goffman (1967, 1971, 1981). No campo da Linguística Geral, são de salientar, por um lado, os trabalhos de Charles Bally (1909 e 1913), um dos editores do célebre Cours de Linguistique Général (1916) de Ferdinand Saussure, de quem foi discípulo e sucessor, na Universidade de Genève, e de Mikhaïl Bakhtine (1929/1977 e 1984). Consideramos estes autores os precursores da CL.
Bibliografia referida:
Bakhtine, M. (1929/1977): Le Marxisme et la Philosophie du Langage. Paris: Minuit.
------ (1984): Esthétique de la Création Verbale. Paris: Gallimard.
Bally, Ch. (1909): Traité de Stylistique Française (2 vols.). Genève/Paris: Librairie de l'Université et Georg & Cie.
------ (1913): Le Langage et la Vie. Genève: Atar.
Brown, P. & Levinson, S. C. (1978/1987): Politeness. Some universals in language. Cambridge: Cambridge University Press.
Goffman, E. (1967): Interaction Ritual. Essays on face to face behavior. New York: Doubleday Anchor.
------ (1971): Relations in Public: Micro-studies of the organization of experience. New York: Basic Books.
------ (1981). Forms of Talk. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
Grice, P. (1975): «Logica and conversation». In Cole, P. & Morgan, J.L. (eds.): Syntax and Semantics (vol. 3): Speech Acts. New York.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1992): Les Interactions Verbales (Tomo II). Paris: Colin.
------ (1996): La Conversation. Paris: Seuil.
Lakoff, R. T. (1973): «The logic of politeness; or, minding your p's and q's». In Corum, C. et al. (eds.): Papers from the ninth regional meeting of the Chicago Linguistic Society. Chicago: Chicago Linguistic Society.
Leech, G. N. (1983): Principles of Pragmatics. London & New York: Longman.
Rodrigues, D. F. (2002/2003): Cortesia Linguística, uma Competência Discursivo-textual. Formas corteses e descorteses em português. (Dissertação de doutoramento). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa.
Searle, J. R. (1965): «What is a speech act?». In Black, M. (ed.): Philosophy in America. Allen and Unwin.
------ (1966): Speech Acts. An essay in the philosophy of language. Cambridge: Cambridge University Press.
------ (1975): «A taxonomy of illocutionary acts». In Gunderson, K. (ed.): Language, Mind and Knowledge, Minnesota studies in the philosophy of science. Minnesota: University of Minnesota Press.

[1] Brown & Levinson publicaram, em 1978, uma primeira versão do seu ensaio, que pode ser considerado a primeira edição de Politeness. Some universals in language use, publicado, depois, em livro (1987), com uma nova e longa introdução, algumas correcções e nova bibliografia.

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